terça-feira, 22 de novembro de 2011

bar do joão e entrevista com o velho joão


Foto de Leonel Mazouhy
O epílogo do Bar do João(Publicado por Porto Alegre Personagens)
Embora fechado já há um bom tempo, o prédio que abrigou o lendário Bar do João, está chegando ao seu fim. Tradicional reduto da boemia de Porto Alegre, no local será construído um moderno centro comercial - com dezesseis andares - que ocupará toda a extensão do não menos lendário Cine Baltimore. Tanto o cinema quanto o bar representaram, por muito tempo, a cena cultural nã...o somente do Bom Fim, mas de boa parte dos porto-alegrenses.
O fundador do Bar do João, João Brum, afirmou em entrevista ao Já Bom Fim, em julho de 2005, que ali passou os melhores momentos de sua vida. Também, na ocasião, revelou outras curiosidades.
João administrou seu bar por mais de quarenta anos. Porém, tudo começou no mais antigo e tradicional Bar do Serafim, conhecido como Bar do Fedor (que nunca fechava), e é merecedor de outra história. Ali João começou como garçom em 1937 e logo se tornou gerente.
Permaneceu na função por 11 anos. Após esse período, montou seu próprio negócio com um sócio - o Bar Imperial - para desgosto de Serafim. O Imperial durou quatro anos. Terminada a sociedade, finalmente montou seu próprio comércio, - o Bar Azul - na Osvaldo Aranha, 1008.
E foi nesse endereço, num amplo sobrado, que nasceu o famoso Bar do João. O comerciante colocou umas mesas de snooker nos fundos e foi morar no andar de cima. Por lá viveu por 27 anos. Na entrevista ao Já, João narra: “o salão do bar era muito familiar, com toalha e flores nas mesas. O movimento começava às 5h da madrugada: eram leiteiros, açougueiros, fiscais da saúde – gente que trabalhava cedo e que ia tomar café lá. Seguia aberto até a meia-noite ou até o último cliente. Tinha dias que ficava 24 horas sem fechar”.
O bar era frequentado pelos mais variados tipos – funcionários do HPS, professores, médicos, advogados, jornalistas, estudantes e também por uma clientela marginal, até mesmo por moradores de rua. Todos, de uma forma, se integravam ao espírito que marcou o Bar João, a universalidade cultural e a pluralidade social de seus frequentadores. “A freguesia era muito boa e o ambiente agradável”, resumiu João ao jornal em 2005. “Os velhos judeus ficavam horas lá, jogando pauzinho. Também se falava muito em futebol. O Carangache, um judeu “gremista doente”, era famoso também porque falava muito alto. A maioria no bar era gremista. Eu fui até sócio”.
E ao entardecer, esse público sofria uma transformação total. E do dia para a noite, com suas mesas de bilhar, atraia boêmios e toda a sorte de malandros, figuras que ficaram conhecidas pela caracterização do “magro do Bomfa”, criado e interpretado pelo humorista gaúcho André Damasceno – hoje conhecido pela imitação do ex-presidente Lula no programa global Zorra Total. Era a noite que o bar reunia uma frequência totalmente eclética, em que se misturavam, mais para a década de 80, jovens, marginais, militantes políticos, entre outros grupos. Passaram por ali e marcaram sua presença constante, políticos de todas as matizes, da esquerda a direita. Nomes como Isaac Ainhorn, que construiu sua história política como o vereador do Bom Fim, além de figuras como de vários prefeitos que comandaram nossa cidade, como Raul Pont, José Fogaça e o atual chefe do Executivo José Fortunati passaram pelas mesas do Bar João.
Também atores, músicos, aliás o Bar João foi cantado em verso e prosa em diversas composições, sendo a mais conhecida a dos irmãos Kleiton e Kledir eram frequentemente vistos na noite do Bom Fim, exatamente no Bar João. De João Gilberto a Nei Lisboa, de Bebeto Alves aos Fagundes, não teve quem não passou pelo ambiente eclético do Bar João.
E assim, a noite caia e pela manhã o famoso café moído na hora, cujo cheiro ia até a calçada, atraia os velhos judeus aposentados e comerciantes, que para lá iam para tradicional jogo de “pauzinho” e suas intermináveis conversas. Como diziam alguns comerciantes, era a sala de reuniões, onde muitos negócios eram fechados.
João vendeu o Bar em 1979 para Júlio Leite, que ficou no velho sobrado até 1992, ano em que foi demolido para a construção de uma garagem. É nesse momento que o Bar do João vai para o imóvel localizado a poucos metros do antigo, na Osvaldo Aranha, 1026, seu último reduto e que agora dá seu suspiro final.
Nesse endereço a fama seguiu e se ampliou pela variedade de cachaças que ficavam a vista de todos, nas prateleiras atrás do longo balcão de atendimento, em grandes vidros transparentes. Tinha de tudo, misturas com ervas, chás, frutas das mais variadas. Em alguns vidros, para brincar com os clientes, cobras, aranhas e outros insetos peçonhentos – de plástico é claro – chamavam a atenção, para espanto dos menos desavisados.
Tudo ali, a disposição dos fregueses, e sempre sob olhares dos precursores da boemia e dos aposentados e comerciantes que continuaram a integração de culturas, do dia para a noite, jogando “pauzinho”, tomando café e assistindo a transformação do velho em um novo Bom Fim.
Ali também trabalharam algumas figuras que ficaram conhecidas de todos no bairro, como o Ilson, o Banana, o Índio, e por fim o Felipe, que esteve presente ao momento do fechamento do Bar. Todos, assim como o João e o Júlio deixaram a sua marca. Se boas ou ruins, não me cabe avaliar. Só que fazem parte dessa história de forma incontestável.
Clientes como o Já Morreu, que agora é fiel freqüentador da Lancheria do Parque, o Paulinho Debatin, o Danilo e todo o pessoal do Bariri Futebol Clube que aos sábados joga pelada na cancha de areião na Redenção, todos, se somam a essa história. Do jogo de carteado, dos shows de rock – na era em que até um palco o bar teve - e que revelaram muitas bandas e músicos, dos churrascos cujos cheiros e fumaças se misturavam em uma área aberta localizada nos fundos do prédio...tudo, enfim é parte dessa rica história.
Em 2010, no período eleitoral, para a surpresa de muitos, o prédio do velho João foi temporariamente reaberto. Durante a reforma para que se tornasse um comitê político, muitos olhavam perplexos, alguns pediam para entrar, faziam excursões e indagavam se o bar reabriria. Foi um lampejo, um sonho, mas que não se realizaria. Vendido para uma incorporadora da construção civil, o seu fim era anunciado há muito tempo.
Agora, enfim, chegou o epílogo de uma era, de parte da história de pelo menos duas gerações que viveram intensamente o Bar João e as suas idiossincrasias. Ele, agora, deixa definitivamente o plano material para se perpetuar na imaginação e em registros como este, para que as novas gerações possam saber um pouco sobre um épico da universalidade. E com diria a canção...que saudades do Bar João...

 A ÚLTIMA ENTREVISTA DO VELHO JOÃO(entrevista de Guilherme Kolling em julho de 2005) 
Quando o Bar João completou um ano e seis meses fechado, em 31 de novembro de 2004, o Jornal JÁ foi ouvir o fundador, João Brum. A reportagem passou uma tarde no acanhado apartamento do senhor de 89 anos, no Parque dos Mais. Lúcido e animado, ele ainda falava com energia quando lembrava histórias da Osvaldo Aranha.
O estabelecimento para o qual ele deu seu nome continua fechado. Foi atingido por uma retroescavadeira que demolia o Baltimore em 2003. Júlio Leite, dono do bar, entrou com uma ação na Justiça para embargar a obra vizinha, que prevê um centro comercial e residencial. Também pediu indenização pelos prejuízos. A decisão ainda corre no Judiciário.
Enquanto isso, o Bom Fim perdeu um de seus personagens históricos, o velho João, que morreu no dia 23 de maio, de doença pulmonar e parada A seguir, republicamos matéria veiculada em dezembro de 2004, a última entrevista de João Brum.

“Os melhores anos da minha vida”

Aos 89 anos, João da Silva Brum está bem lúcido, e lembra detalhes do bar que criou e batizou com seu nome. Ele vive no bairro Parque dos Maias, de onde sai raramente. Recebe notícias do Bom Fim através dos filhos, que também trabalham no comércio, um deles na Osvaldo Aranha.
A avenida traz ótimas recordações para o velho João. “Foram os melhores anos da minha vida”, lembra. Trabalhou no local por mais de quatro décadas, “os 365 dias do ano”. Nesse período, presenciou a transformação da área, com a construção do Hospital de Pronto Socorro e do Mercado Bom Fim.
Passou por diversos estabelecimentos até iniciar seu negócio. Veio como empregado do lendário Bar do Serafim, mais conhecido como “Fedor”. O irmão de Serafim tinha o bar Dalila, na Azenha, e um certo dia disse para João: “Olha, tu és muito trabalhador e não merece ficar aqui. Vou arranjar trabalho melhor para ti”.
E assim João começou no Fedor, em 1937. Logo foi promovido a gerente. “Eu era muito atencioso com a freguesia”, explica. Até hoje ele arregala os olhos quando lembra do movimento. “Aquilo fervia. Tinha até cancha de jogo do osso”, conta.
Depois de 11 anos no Bar do Fedor, João montou o Bar Imperial com um sócio, na Osvaldo Aranha, 1344. “Levei toda a clientela comigo. O Serafim ficou louco de raiva”. A sociedade durou quatro anos. Foi quando ele comprou o Bar Azul, também na Osvaldo Aranha, número 1008. Ali nasceu o Café-Bar João.
Ficava num sobrado comprido e espaçoso. No andar de cima morava o senhor Lewgoy, que saiu depois de uns meses por causa do barulho. João, que morava nos fundos, reformou o espaço, colocou umas mesas de snooker e foi morar no segundo pavimento. “Era imenso, tinha 13 peças. O problema é que eu quase não podia dormir, passava um barulhão pelo forro de madeira”. Mesmo assim, morou lá 27 anos.
O velho João conta que o salão do bar era muito familiar, com toalha e flores nas mesas. O movimento começava às 5h da madrugada: eram leiteiros, açougueiros, fiscais da saúde – gente que trabalhava cedo e que ia tomar café lá. Seguia aberto até a meia-noite ou o último cliente. Tinha dias que ficava 24 horas sem fechar.
Era freqüentado pelos mais variados tipos – funcionários do HPS, professores, médicos, marginais, advogados, jornalistas, estudantes. “A freguesia era muito boa”, resume João. “E o ambiente agradável. Os velhos judeus ficavam horas lá, jogando pauzinho. Também se falava muito em futebol. O Carangate, um judeu “gremista doente”, era famoso também porque falava muito alto. A maioria no bar era gremista. Eu fui até sócio”, conta.
O café era uma atração a parte. Cheiroso e moído na hora, vendia 4kg por dia. “Não tinha quem não parasse para tomar um”, garante João. Para dar conta do movimento, duas copeiras e dois garçons, um deles cuidando do snooker.
Bilhar – “Mesa de bilhar dá um lucro extraordinário, mas é um desastre”. O jogo causou algumas confusões no Bar João que, segundo o antigo proprietário, quase nunca tinha briga. “O problema é o jogo, que sempre atrai malandro”, explica o pioneiro. Com seu 1,68m de altura, João Brum deu fim a desentendimentos sérios, quase sempre na base da conversa.
“Uma vez me meti num conflito e fiquei sob a mira de um revólver. Tudo por causa de um cruzeiro que o cara não queria pagar. Consegui levar o sujeito armado lá para fora e conversei com ele: ‘Ô, rapaz, tu é casado, tem filho, vai se meter com malandro e deixar um tiro e estragar tua vida?!’. Ele respondeu ‘o senhor tem razão’, e me disse: ‘Vou continuar vindo armado, mas o revólver fica no balcão’, prometeu”. E assim foi feito.
Em 1979, João Brum vendeu seu bar. “Foi um dinheiro bom”. Mas garante que não enriqueceu com o estabelecimento. “Fui muito roubado. Não tinha como ter controle do dinheiro que entrava”. Ao invés de se aposentar, abriu um bar no Centro, que durou quatro anos, e encerrou a carreira no Colégio Vera Cruz, onde comandou a cantina por 11 anos.
Com o novo proprietário, Júlio Leite, o Bar João ficou no número 1008 da Osvaldo Aranha até 1992 – o sobrado foi demolido para a construção de uma garagem. Daí, se mudou para o número 1026, onde está a fachada até hoje.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

parque da redenção


O Parque Farroupilha é contornado pelas avenidas João Pessoa, José Bonifácio, Osvaldo Aranha e ruas Setembrina e Engº Luís Englert - Bairro Farroupilha. Contando com 370.000 m², o Parque oferece um irresistível passeio entre as árvores centenárias e espécies nativas do RS e do Brasil, sobretudo durante a primavera quando os ipês roxos e amarelos sublimam a paisagem do local. Dentre os 45 valiosos monumentos em cobre e mármore presenteados por vários países e instalados em sua áreas, destacam-se a fonte luminosa, produzida em Nova Iorque e inaugurada em 1935, e o Monumento do Expedicionário, de autoria de Antônio Caringi, inaugurado em 1953, representando um duplo arco do Triunfo com esculturas em relevo que homenageiam os pracinhas da 2º Grande Guerra.

    Outros atrativos do Parque são o orquidário, o mini-zôo, os 5 play-grounds, o parque de diversão infantil e os belos recantos solar, europeu, oriental e alpino. O Mercado do Bom Fim que, nos idos tempos era ponto de encontro das senhoras que iam fazer a feira, hoje concentra lojas de artesanato, floricultura, sorveterias e bares.

    Os mais desportistas podem jogar futebol, bocha, alugar bicicletas, testar a resistência física na melhor pista pública de atletismo da cidade ou nos aparelhos de ginástica instalados no Parque Ramiro Souto.

    Aos sábados, ao longo da Av. José Bonifácio, acontece a Feira Ecológica onde são comercializados produtos integrais, verduras sem agrotóxicos e muitas variedades do mais puro mel. Já aos domingos, no mesmo local, o programa é passear pelo Brique da Redenção, feira de antiguidades, artes plásticas, artesanato e gastronomia que reúne mais de 300 expositores. Caracteriza-se como um espaço democrático, onde os porto-alegrenses se reúnem para desfrutar das atrações do parque, tomar chimarrão e encontrar os amigos.


Redenção
    O Parque Farroupilha, mais conhecido como Redenção, foi fundado em 19 de setembro de 1935, administrado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente.
    Estima-se que mais de quatro milhões de pessoas passam por ano pela Redenção.

http://www.portoalegre.tur.br